Wednesday 22 April 2009

silent sigh

É uma música sobre flocos de neve.

Sobre o sorriso no frio.

Sobre bebês com gorro de lã coloridos.

É uma música sobre chão molhado, outono e móbiles de espelho.

É sobre palhaços-adultos e crianças.

É uma música sobre pessoas que caminham lado a lado, encostam suas mãos sem querer, de leve, umas nas outras, levam um susto da vida, para, depois, darem as mãos de verdade perante o mundo.

É sobre fotos preto e branco.

Clipe coloridos.

É uma música que fala sobre sinais silenciosos.

Wednesday 15 April 2009

tenso

contente-se pois, ser vivente, em seu espaço quente e aconchegante, antes que a morte fatal venha lamber os seus pés fugitivos.

(Goethe)

Wednesday 8 April 2009

excesso de verdade

a coisa que mais me chocou, que mais me deixou realmente chapada nos filmes do festival É Tudo Verdade, foram as perguntas da platéia. Vejam só que divertido de se ler (pq. vendo e ouvindo só consegui ficar atônita):

cena 01. Cinesesc - bate-papo pós estréia de 'Garapa', doc. de José Padilha sobre a fome e a miséria humana no sertão da puta que o pariu. Um dos documentários mais essenciais e incômodos que eu já vi. TEM que ver. TEM:

- Zé, boa noite. Eu percebi que no filme as mães chamam muito a atenção dos filhos, dizendo 'Não meche aí!', 'senta direito', 'agora não pode', colocando o lencinho no chão pra criança sentar em cima e não se sujar etc. Tudo isso me deu a impressão de que essas mães fizeram essas coisas pra te impressionar, pra chamar sua atenção, pra tentarem mostrar que são boas mães.

nota da redação. COMO É QUE É?! Então porque uma mãe é 'daquelas que passam fome', vivem abaixo da linha da miséria, não tem nada em casa e coisas MUITO piores, quer dizer que ela não pode saber educar os filhos? Amar os filhos?! Quer dizer que gente (MUITO) pobre é 'do mal', não tem sentimentos maternos? Não tem o sentimento universal de zelar pela sua cria?! Querida, ali a miséria é tanta que essas mães não sabem o significado das palavras 'impressionar' e 'mostrar'. Já vc., sabe, né? Ai.

Antes de o silêncio geral se tornar constrangedor, José Padilha responde rápido e objetivo:

- Não. Não é isso não, viu. Elas são assim. Eram assim com os filhos quando a gente tava filmando e quando não tava também.

cena 02. Cinesesc - bate-papo pós estréia de 'Corumbiara', doc. de Vincent Carelli sobre os poucos índios que sobraram do massacre de Corumbiara, em Rondônia. Comovente, fodástico. TEM que ver:

- Oi, meu nome é (whatever) e eu queria saber como foi pra vc. dirigir (?) esses índios. Como foi a atuação nas cenas (cenas?). Algumas partes ali não eram verdade, né? Tinham alguns atores ali... como foi?

Silêncio geral na platéia. Um menino atrás de mim sussurra de canto de boca "O nome do festival é 'É Tudo Verdade', minha filha". Eu quase choro com o que acabei de ouvir - Gente, quem botou essa mulher aqui dentro do cinema? Quem deu ingresso pra ela? - Vincent respira fundo e, como bom profissional, responde:

- Não, não eram atores. Aquilo tudo ali é real, todas as cenas, claro. Não teve isso de 'dirigir' os índios. Não teve nada! Teve o registro de toda aquela história e toda aquela gente e ponto.

nota da redação. O registro de todas aquelas histórias... que nos são tão duras, né? Difícil de lidar com a verdade nua, crua e violenta na nossa cara, não? Excesso de verdade. Já disse uma vez: o mundo não aguenta. Joga confete no meio porque senão fica difícil de por pra dentro. Talvez seja por isso, pela incapacidade de lidar com verdades tão brutas que pessoas como essas duas idiotas acabem vomitando perguntas como essas, totalmente malucas. Só pode ser isso. Em todo caso, fica a impressão: eu tive vergonha alheia pelas duas e fico desanimada com o ser humano quando tomo consciência de que existem pessoas que pensam assim.

É Tudo Verdade, minha gente. Acredite.