Thursday 5 November 2009

como destruir o idealismo de uma criança.

parque do ibirapuera. 3 da tarde. feriado de segunda-feira. o sol não está lindo, ele está ROSA. está mais do que lindo. a natureza explode por todos os cantos (possíveis e apertados) da cidade. famílias-doriana de idades, cores e estilos mil passeiam pelo parque, sorrindo, brincando, criando momentos kodak a cada segundo.
mãe e filha caminham bem perto do lago que tem fontes que formam jatos de água com o símbolo de uma rede de supermercados.
Ei mãe, olha só! O lago agora tem peixes de novo!
É verdade filha... e olha quantos! Lindos! Vamos chegar mais perto?
mãe e filha se aproximam bem da borda do lago. o sorriso no rosto se transforma em uma boca cerrada, seca, séria e um olhar muito, muito triste.
As pessoas não têm consciência, filha. É muito triste isso.
junto aos peixes que voltaram pro lago de hoje em dia, algo que nunca saiu dali: quilos e mais quilos de lixo. NOSSO lixo. saquinhos de salgadinho, palito de picolé, plástico, papel, copos de plástico, pedacinho de borracha, um corpo de peixe morto boiando (...) um corpo de peixe morto boiando?! a menina lembra de quando viu uma cena dessas numa revista em quadrinhos que adorava ler - o rio sujo tinha um par de botas, uma meia e um peixe morto.
a menina sabe que aquilo ali não é uma história em quadrinhos, apesar de todos os figurantes que por ali passam, sabem sorrir e olhar como se absolutamente nada estivesse fora do normal no lago com o corpo do peixe morto boaindo.
a menina sabe que o peixe morreu por causa da poluição que nós, humanos, provocamos na casa DELE. a menina sabe que estamos invadindo a casa deles sem bater na porta, tocar a campainha ou sequer perceber o sinal de 'não perturbe' na maçaneta. a menina não vê a hora de ELES invadirem a nossa casa sem dó e acabarem com tudo.
e para fugir, o que vamos fazer? pular no lago e viver ali? com a nossa sujeira? ótimo começo. que nos afoguemos em nosso próprio lixo.
a menina pensa: "mamãe me ensinou a respeitar a natureza, os animais, a terra, o fogo, a água e o ar. mamãe não é mais uma criança e ainda fica triste com coisas como a que vimos. mamãe é das que ainda sonham. ainda bem."