Friday, 31 October 2008

debbie & nadia's song

hoje vi três rouxinóis lindos, vermelhos, brilhantes (!) dentro do meu quarto.
saudades do que ainda não foi
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Monday, 27 October 2008

será que não percebem que precisa do ar mais puro para respirar?
o ar mais simples, sincero e tranquilo que possa existir?
será que não percebem que não acredita em mais ninguém
em mais nada, em mais nenhuma palavra, nenhum gesto,
nenhum ímpeto, nenhum olhar?
será que não percebem que ela está indo embora?

o elefante. o elefante. e o sorriso.

Friday, 17 October 2008

provocações

"A arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade."

imagens adormecidas no nosso inconsciente podem vir à tona diante de uma obra de arte?


"Os sentidos não enganam. O que engana é o julgamento."

você já sentiu o cheiro ou o gosto de algo ao entrar em contato com um trabalho artístico?


"A imagem do homem sentado, contemplando, num dia de greve, sua tela de televisão vazia, constituirá no futuro uma das mais belas imagens da antropologia do século 20."

você se lembra de ter vivido alguma experiência artística (seja teatro, cinema, música, exposição) que tenha desagregado seus sentidos, que tenha lhe mostrado novas formas de compreender o mundo?

"(...) mude de caminho. veja o mundo de outras perspectivas. não faça do hábito um estilo de vida. tente o novo todo dia: o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida. experimente coisas novas. o mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. só o que está morto não muda! (...)"

será que a arte tem mesmo o poder de deslocar o nosso olhar, nosso sentido, nosso corpo?

"Toda mudança ameaça a estabilidade."

você já viveu a experiência de perceber uma situação que outras pessoas não percebem?

"Grande elefante, estique sua tromba, diz a criança à nuvem que se alonga. E a nuvem obedece... O sonhador tem sempre a nuvem a transformar. A nuvem nos ajuda a sonhar a transformação."

Wednesday, 15 October 2008

heaven

Quem ainda não foi ver o Marião e a banda de rock dele (Saco de Ratos Blues) tocar às terças no teatro X, nunca viu um dos melhores shows de rock que eu já vi na minha vida. Aquilo não é um show, aquilo é um soco na cara, aquilo é um templo, é um clima, é liberdade! Aquela sala preta minúscula do X vira um boteco, um cabaré, um puteiro, uma jam, vira o céu, o inferno, uma bebedeira com música, com ator, com guitarrista, com fumaça, com copo, eu sei lá o que é! Mas é bom DEMAIS. Acredite em mim, só dessa vez: É DE FODER DE BOM.

Vc. não sabe do que eu estou falando. Não, vc. não sabe. Só indo lá e vivendo aquilo. Vc. não sabe o que é o Mário vomitando "Nossa vida não vale um chevrolet" e a banda sangrando junto. O Picanha... porra, o Picanha cara. Eles reverberam as músicas até o seu último fio de cabelo e sua última idéia do que é rock ficar alucinada de tão confusa. Eles berram, sussurram, trepam a música. Entra gente no meio e detona tudo, Peréio pegando o microfone e falando frases que só Peréio fala, Marcelo Montenegro recitando um poem enquanto um menino (que eu não conhecia) chamado Marcelo Watanabe bota fogo com álcool na sua guitarra acompanhando o poema, uma loira entra com tudo e solta a voz mais fodida de linda do mundo, e pessoas entrando e saindo daquele palco e tendo seus instintos mais reais, mais sinceros. Instintos que ninguém segura, são todos jorrados ALI. AGORA. Isso é lindo.

Tudo assim, tudo ao mesmo tempo agora, mas absurdamente harmonico, absurdamente inebriante. Uma banda com a banda e com quem tá vendo. A banda é tudo, é todos, é o que tá acontecendo ali, agora. Tudo entra ali e tudo destrói. Eles derrubam e arrebentam todas as quatro paredes daquele teatro e ainda botam fogo, literalmente, no puteiro. Se ali é o inferno, é o melhor lugar do mundo para se lavar a alma - de todas as maneiras que vc. quiser.

Tuesday, 14 October 2008

era uma vez o amor mas tive que matá-lo (e. m. reyes)

Não tento entender o que está acontecendo, me estendo sobre o seu corpo e ouço o que dizem os astros. Uma voz tenta romper as miragens mas já não consegue. Você é tão assim, tão bela. Um presente da morte. Meu corpo não consegue acreditar, não acredito no meu corpo. Meu corpo se opõe como ciência estúpida entre você e mim. Seu corpo se desfaz para me deixar entrar, meu corpo é duro como uma lei, como um pacto de outros. Renuncio ao meu corpo e me entrego ao seu, renuncio à minha alma. Você é o oco no meu coração, a raia no meu pensamento.

Depois que você foi embora precisei de muito tempo para fazer com outra mulher. Talvez tivesse sido melhor não tentar. Tudo sem você é desbotado e sólido, alguma coisa não está mais comigo, o encanto morreu e só ficam o insípido prazer, o vazio, o vício. O desejo continua intacto mas o clima não flui. Você tinha uma forma peculiar de me iluminar, um silêncio com leves ressonâncias de estações chuvosas, de hotéis no meio do deserto.

Saturday, 4 October 2008

Lascívia

- Eu chamo todo mundo de 'amor'. Não é privilégio seu.
- Mas eu acho que...
- Não ache. O mal do século 21 é o 'achismo',
o excesso de opinião.
E na mesa da frente o cara falava para a namorada:
- Jesus fez o que... por que a Bíblia mudou? Porque...
E foi nessa hora que, com as unhas bem feitas e as mãos delicadas,
ela pegou duas batatinhas e colocou na boca, olhando para ele bem
no fundo de seus olhos. Chupou o dedo indicador da base até a ponta.
Seu olhar não desviava do dele por um segundo sequer.
Seus olhos ajudam - tem sombrancelhas grossas e um olhar profundo,
forte e cortante como a pior das navalhas. Olhos de lince que só ela sabe fazer.
Ele sorriu. Ela não achou a menor graça.
Continuava olhando e lambendo os dedos como se desafiasse ele,
o lugar, as pessoas... o mundo.
Entrou no carro e subindo a avenida principal, ela olhou pra frente e
respirou fundo. Bem fundo.