Monday 4 August 2014

buraco do minhocão. uma noite qualquer de 2014.

Ele entrou na minha vida como um acidente de carro.
Desses que depois de dois dias você ainda se pergunta que caralho acabou de acontecer.
Só percebi que seus olhos eram verdes e sua alma desgarrada depois de algumas horas.
Depois de gritarmos nas paredes da cidade o quanto tudo não faz o menor sentido.
Mais, eu. Menos, ele.
Comigo, frases descontroladas e revolta. Com ele, desenhos de flores, sol e mulheres nuas.
Fizemos um pacto, sem palavras, de viver como se fossemos morrer. Beber, rir, dormir, brigar, falar, transar, odiar, amar, des(d)enhar, xingar, comer, abraçar.
Enterramos um Sabiá na praça com tristeza. Fizemos sexo descontroladamente embaixo do chuveiro com tesão.
Tiramos cartas de baralho no porão de uma festa, pixamos juntos a parede descascada.
Ele me roubou um beijo e me olhou como se tivesse acabado de beber kriptonita e perder todas as forças de de um super-homem.
Dormimos no tapete de nuvens.
Lemos poemas bêbados e malditos.
Pulamos muros, voamos casas, invadimos a natureza.
Trocamos de boné.
Trocamos de alma.
Atravessamos avenidas da madrugada com carros descontrolados só para sentir se realmente conseguiríamos atravessar.
Ele puxa meu limite em um grau muito maior do que meu limite, que já é muito, muito, muito...
Desconfigurado.
Ele tem uma loucura linda e perigosa. Absolutamente uma cópia de mim, aquele outro ‘mim’. Aquele, sabe? Aquele que não mostro para quase ninguém.
Por que não?
Quem disse que não?
Vivemos em cima disso. Gozamos por isso.
Lembrei das perguntas, tentando me decidfrar. Das mentiras, tentando me acalmar.
Vivemos como se fossemos morrer.
Mais, eu. Menos, ele. Eu acho.
Ele é pai e filho. Bom e mau. Egoísta e generoso.
A incoerência viva. Tão perdido, tão certo do que quer, tão doído, tão real, tão forte e tão, mas tão fraco. Tão fantasioso, tão mil pessoas e lugares e ideias e sonhos e armadilhas. Tão amor, brilho nos olhos, carinho na mão.
Tão esperto. Tão ingênuo.
Fizemos um pacto, sem palavras, de viver como se fossemos morrer.
Um acidente de carro sem vítimas. Em que vai sobrar apenas uma foto velha e amarelada, em uma estrada de praia, com a gente no capô do carro, sorrindo pra câmera e segurando um pneu em cada mão. Um-em-cada-mão.
Foi um belo acidente.


















pic. joão baptista lago

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